terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Na cozinha

Hoje é meu prato mais sem sal. Uma cozinha sem temperos. Cozinho os dias em banho-maria porque foi quase muito pouco o quanto houve de quintal. Falta açúcar quando provo o gosto da minha saliva e ser único não dá lugar melhor na fila, nem sabedoria. Se soubesse não faria. Se houvesse eu saberia. Uma gastrite é o que menos queima. E os meus pés doem tanto quanto não mais deveriam. O descanso que não pára pra descansar. O alívio que tem muitas feridas pra soprar. Conto comigo e sou pouco para tantos, sou um só que não cabe no cinema, que não aparece na praça, que não toma sorvete e não conhece voar alto. Temo que as coisas sejam um circuito fechado e sem outra saída. Temo uma programação que não muda. Pode ser que agora eu esteja certo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pra não deixar em branco

Eis que te absorvo O que sempre deixei de considerar Onde pouco quis realmente ficar Então agora fico com você E te peço que me receba o melhor que puder Não sou o cara das palavras que povoam a boca, sou o cara das palavras que gostam do branco para serem algo, mesmo que não se mostre compreensível pois, qualquer palavra quer na vida apenas ser Fico aqui para que eu possa refletir Quando eu cheguei não foi por que me queriam mas já que fiquei, guardei a pergunta até hoje Eu tenho tanta perguntas e são tão minhas que quase nunca posso responder qualquer outra que venha de fora pra dentro Então não posso responder Não posso responder primeiro pra mim Não posso responder segundo pra você Eu gostaria mas não tem mais como refazer Já foi feito Foi quando me fizeram sem querer e eu fiquei sem que quisessem Mas não importa mais, menos pra mim A menos que tenha sido uma outra história Eu não deveria ter sonhos assim como não haviam bolachas Assim como não haviam saídas pra fugir Assim como não era permitido reagir Eu não deveria ter sonhos pois dormir não parece real Agora é tudo prático Agora é mais fácil Temos corpo e quase almas Queremos ser ouvidos Podemos querer Devemos querer Podemos não ser Arranho a pele pois reveste a alma Essa que não se cabe mas agora quer ficar aqui Agora parece o melhor lugar como antes nunca foi O amor é um espelho permanente fixado por dentro sofrendo à umidade, mudando de acordo com a idade, exposto à poucas limpezas e resignadamente vai perdendo o reflexo O mistério de ter conhecido um espelho tão mau cuidado e manter o reflexo Não preciso às vezes lá de fora mas de estar aqui Onde posso alterar sem interferir e deixar de existir sem alterar Mas sei Não faço me entender