quarta-feira, 21 de maio de 2014

Chá com a paz

Eu sei que a paz, pra que eu a encontre, só depende de mim. Ela nem me espera. Ela conta que eu a ache. Onde quer que ela esteja.
Não sei como será esse dia, mas sei que por enquanto, não existem dias contentes.
Os dias são como a chaleira no fogo. Coloca-se água, começa a virar vapor, pode ser que se transforme em café, pode ser que vire chá, mas vai ser só mais uma outra coisa a ser tomada, ser digerida e mais nada. No dia seguinte a mesma chaleira, o mesmo vapor, o mesmo chá ou mesmo café serão digeridos com o mesmo gosto, o gosto de todos os dias.
A minha cabeça dá giros em torno da mesma estrela que ainda brilha mas que não pode ser tocada, não pode ser vista, ao contrário disso, devo esquece-la e só abrir os olhos quando estiver realmente longe, pois a luminosidade inevitavelmente cega e disnorteia, principalmente a mim que já não sei muito bem onde fica o norte das coisas.
Por enquanto acho tudo injusto e cruel. Como não perceber no seu jardim que as glórias das manhãs se abrem e permitem que insetos sobre pousem suas pétalas. Ou não perceber que há uma nova correspondência na caixa dos correios.
A mágoa é como uma mariposa que não sabe encontrar uma abertura pra sair e se debate diante do vidro, talvez por não conhecer janelas de vidro e insiste sem cansar ou pára de vez em quando pra descansar as asas que involuntariamente lutam por uma fuga e acaba por fazer barulho, por contrariar, por tornar as coisas mais difíceis. Quando se quer fugir, só se quer fugir, não importa pra onde, só importa do quê.
A paz certamente não está na chaleira, nem se debate diante do vidro e nem quebra a cabeça com estratégias de fuga ou de um esconderijo implacável. A paz deve andar de sorriso esculpido e roupas coloridas pois nem teve muita atenção em combinar as cores, queria logo chegar no mar e colocar os pés dentro da água, sentir o sol até que ele se ponha e  a deixe disposta a sorrir e pensar: amanhã quero tudo isso de novo!

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Dos dias sem fim (Luiz Gadelha) para ouvir

Dos dias sem fim ouvir áudio
(Luiz Gadelha)

Não quero ficção
Prefiro ficar só
Coragem é pra quem tem
Senão...

Não quero aventura
Prefiro os pés no chão
Viagem só pra ir
Além...

Não deixo de amar
Mas tenho um novo olhar
capaz de ser mais vivo

Se fico por aqui
Desejo preservar
O que guardo como único

Eu sou
Mas eu comigo
Tô mais meu amigo



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Nem tudo que reluz é resposta

Como seria se lhe procurassem
falando de amor sem rodeios, quase?
Rondando o passado que não
foi tão distante onde se viam à diante?
Como seria se a boca que não tens mais o gosto trouxesse à tona
um desejo quase louco de esquecer
o hiato e retomar o ditongo?
Como seria ouvir que há saudades das coisas mais sutis e das coisas mais consistentes como o abraço?
E se não lhe procurassem e lhe mandassem carta sem orgulho nas palavras só pra dizer que nada tem mais tanta graça?
Que tentar seguir em frente é o ideal até o dia que não seja total por que sentir ultrapassa?
Como seria se por um minuto se sentisse igual a quem te procura com sua imprudência em dizer o que sente e o que pensa?
Como seria estar só em um dia apenas com quem esteve tantos dias em plena alegria? Como seria?
Tantas perguntas são apenas inscrições.
Deixam que as dúvidas sumam por bondade ou por desprezo.
Fazem sentindo pra própria interrogação.
Fazem desacelerar o coração de quem pergunta.