domingo, 29 de junho de 2014

Colher de chá

Fazia uma tarde inteira que não te esperava. Nada me iluminava. Ninguém me detia. Nunca houve sucesso na espera e muito menos na insistência. Aqui nessa mesma rua em que a gente vive eu não te reencontrei. Não houve continuação. O desejo só se torna aquilo que se quer pra sempre quando há um passo pra frente e você não deu. Toda vez que me lembro eu percebo que somos próximos além dos poucos passos que são necessários pra a gente se ver. Foi uma única tarde e uma única praia que ficou. Foi uma única tarde e uma única praia que não ficou. Naquele dia existiu algo suficiente pra transformar o dia seguinte em espera e eu nem sabia que estava distraído. Havia uma distração entre nós que nos permitia brincar de sermos quase um par mas você impediu. Não sei o que no pouco teve pra significar um tanto pra mim até agora mas é justamente por isso que escrevo. Ontem e em outro dia que lhe vejo deixam uma coisa incomodando como uma única mosca que pousa coreograficamente sobre um dos braços. O chato de ser como uma única mosca é querer se livrar de algo que insiste em voltar e ficar no mesmo ponto, no mesmo braço. O que faz ser diferente de uma única mosca é que apesar do incômodo de sempre voltar ao mesmo ponto, lhe ver traz algo de bom, um bom esquisito. Parece mergulhar uma colher de chá numa panela gigante, quase transbordando, de doce de leite e só ficar com a colher de chá. É esquisito porque mesmo não se acumulando de toda panela de doce de leite existe um bem-estar com a colher de chá. Existe uma certeza no gosto e uma certeza de sede, depois de uma única colher de chá. No fundo a gente entende tudo. No fundo eu sei como é toda essa construção. Pode não virar casa, pode não virar prédio e ainda assim vejo uma porta e abro uma janela pra uma grama verde numa terça-feira de folgas.

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